
Sandra Eugénio
Nem um poema nem um verso nem um canto
Tudo raso de ausência tudo liso de espanto
E nem Camões Virgílio Shelley Dante
- O meu amigo está longe e a distância é bastante
- O meu amigo está longe e a tristeza é bastante
“Cantiga de Amigo”
J. Carlos Ary dos Santos
A
Arte Amizade
António
Em leitura circular ininterrupta
António
Um bigode farfalhudo
Um sorriso cortado
Grande
Pesado
Olhar penetrante
Mãos possantes
Passo compassado
Suado
Calado
Firme
Convicto
De palavra
Homem Verdade
Arte
Pedras, muitas pedras, muito pó…de pedra.
Um atelier, uma garagem, um Páteo.
Inertes na natureza, depois de cortadas, polidas, acariciadas, esse objeto primordial e disforme ganhava vida e estória.
Não sei falar sobre a sua Arte. Deixo isso aos críticos.
Mas sei o que para ele não era Arte: promoção, discursos, vendas, dinheiro, revistas, entrevistas e tudo o que desse nas vistas.
Vender uma obra era amputá-lo.
Queria-lhes como a um filho. Ali por perto. Para si estavam sempre inacabadas, não sei se por perfeccionismo se por pretexto para as não deixar ir.
Amizade
Fomos Amigos.
Daqueles especiais. Nunca o dissemos por redundância.
Esticava-me, abraçava-o e vinha de lá um “VIVA MINHA AMIGA. Como vai a Sandrinha”.
Fui sempre “Sandrinha” nunca cresci e ele nunca envelheceu.
Era feliz no meio dos blocos brancos, da máquina de corte e do silêncio. Era aí que o encontrava e que falávamos.
Cresci à sua beira, iniciou-me nestas coisas eruditas da Arte e nas intangíveis da Amizade.
Fazia-me sentir importante por conviver com um Artista Plástico.
Respeitámo-nos e Admirámo-nos.
O seu gostar de mim fortaleceu-me e fez-me melhor pessoa.
Devo valer algo para merecer ter um Amigo assim.
Para sempre.