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Maria do Rosário Catita

Falar de António Júlio transporta-me directamente para o seu atelier, o espaço onde tudo era criado, um espaço reservado e completamente protegido de olhares externos; mas era preciso entrar, era preciso ver, limpar e arrumar… vamos! disse eu. 

Ao entrar no que supunha ser um espaço com matérias primas diversas e algumas obras inacabadas, deparo-me com uma presença forte do António, senti que violava a sua intimidade, mas tinha que ser; tudo à vista tinha a sua presença e era preciso remexer. 

Com tacto, comecei a tentar perceber o que estava ali e até nos pequenos “lixos” encontrei a sua identidade, no meio do suposto “entulho” reconheci peças, aliás reconheci os moldes que originaram peças que todos conhecemos, foi em constante descoberta e com profundo entusiasmo que demos volta ao seu íntimo, querendo ver mais e mais, querendo beber do seu silêncio; e foi numa estante mais resguardada que encontrámos papéis, papéis que são desenhos, projectos e estudos para chegar à obra. Fiquei fascinada.

O que mais me tocou foi sentir a presença de uma religiosidade profunda, mesmo sabendo que se afirmava um homem sem religião. António foi sem dúvida tocado por Deus, a sua obra é resultado de um profundo relacionamento com O Criador.

Esta experiência, ao ser partilhada, fez-nos descobrir que não era eu a única a pensar assim e, então, “Falar de António” tornou-se entusiasmante e ao mesmo tempo insuficiente, éramos já muitos a querer partilhar este entusiasmo e a cruzar testemunhos; ao concluir o interesse comum e a riqueza do que tínhamos em mãos, assumimos que: “o que António deixou não podia ser só para nós”.

Falou-se numa exposição para dar a conhecer a obra, e o agrado foi unânime, mas, mesmo na certeza do seu sucesso, surgiu a dúvida; por que não um livro? Tinha que ser algo intemporal que imortalizasse a obra mas também tinha que ser suficientemente rico para tocar a sensibilidade. 

Por que não as duas coisas?

 

© Luis Espada 2021

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