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Marta do  Ó

António Júlio foi meu professor de Oficinas de Animação entre o 10º e 12º ano. Foi professor, porém, teve muito mais papéis dos que esta função o propunha. Era um veio de passagem de conhecimentos técnicos, mas também de experiência de vida e de valores.

Nesse papel tinha a meu ver a melhor das posturas. Exigente, mas compreensivo. Sabia “retirar” o melhor de cada um de nós. Sabia as nossas capacidades e os nossos limites e desta forma sabia como apoiar-nos na nossa evolução. Deixava-nos tomar posições mesmo sabendo que faríamos “asneira”, mas cada passo errado nosso, era uma oportunidade de uma lição. Porém quando via que a asneira era gigante, como um bom mentor alertava-nos e encaminhava-nos.

O professor António Júlio foi muito mais que um professor ou então um professor na acepção da palavra. Ainda hoje, quase 20 anos depois de ter deixado de ser sua aluna, relembro-o muitas vezes. Em situações relacionadas com a arte ou não. Nas coisas da vida. A sua franqueza às vezes dura, mas tão necessária em certas situações e também a sua sensibilidade perante as belezas simples da vida.

Era um homem cru. É assim que o relembro. Directo, frontal e sincero. Não dizia “simpatias” que não eram verdadeiras. Em relação ao nosso trabalho e evolução, preferia dizer-nos verdades pequenas e simples, mas verdades. Porém também nos motivava (à sua maneira claro) mas motivava... “Vocês são muito mais que isto…”Dizia ele ao falar acerca de um trabalho que fizemos como turma.

Estas minhas palavras podem dar a forma de um homem insensível ou frio, mas não o era. Debaixo daquele bigode farfalhudo com um cigarro, do casaco de xadrez e da pasta que tinha sempre debaixo do braço ao entrar na sala, era um homem dócil e que se emocionava facilmente. De sorriso difícil mas verdadeiro. Peremptório nas suas decisões. Sábio. É com grande estima que digo que fui sua aluna. Não ajudou a formar só uma aluna. Ajudou a moldar uma pessoa. Eu não seria a mesma, se não o tivesse conhecido. Pode parecer exagero, mas é assim que o relembro. Com o carinho de uma aluna, com a humildade de uma aprendiza. Ser-lhe-ei eternamente grata.

© Luis Espada 2021

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