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Isabel Carvalho

Durante muitos anos, ouvi falar do António Júlio pela Elsa e por uma amiga muito próxima e eu imaginava-o um pouco como uma lenda: de uma simplicidade desarmante e de um sentido de humor irrequieto e gracioso.

Só nos últimos anos tive o privilégio de encontrar-me com ele e revejo a alegria com que recebia os amigos na sua casa, atento para que não faltasse nada à mesa e a cada conviva e generoso no relato de histórias de vida e de artista.

Mas o António tocava-me também pelo seu sentido cívico e de cidadania e pela sua militância política no sentido de construção de uma sociedade mais justa e igualitária e pelo seu sentido do belo. Recordo-me de uma noite em que estivemos juntos numa passagem de ano e ele falou da sua experiência de criação das esculturas na Igreja do Miratejo. Durante muitos meses, imaginei a sua obra e desejei contemplá-la, até que (infelizmente, quando já não podia falar com o António) entrei naquele espaço sagrado. E aí deu-se o encontro com uma visão profundamente humana da religião, que me tocou (a mim que sou uma mulher religiosa no sentido do encontro entre Deus e Todos os Homens) pela simplicidade das linhas e das formas, pela humanidade da família de Nazaré e do Menino e pela força que emana de cada pedra e do metal por si trabalhados.

Obrigada, António, pela tua alma de artista e por teres partilhado com todos os que te conheceram a tua Utopia e a tua fé de que (ainda) é possível a criação de um mundo mais harmonioso e justo para todos.

© Luis Espada 2021

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