
Anabela Mendes
Fui colega de turma do António, no curso de escultura da escola superior de Belas Artes de Lisboa. Não sei exactamente o motivo pelo qual este convívio teve lugar apenas no 4º ano. Suponho que tenha sido um reingresso para fazer o ciclo de 4º e 5º ano.
Depois de terminarmos a faculdade coincidiu ele ter um atelier no prédio onde morava uma amiga minha, também ela amiga dele, e tivemos algumas conversas esporádicas.
Decorrente desses encontros fortuitos, convidei-o para leccionar uma disciplina de oficina de madeiras, no curso de EVT, do qual era coordenadora, no instituto Piaget de Almada. Embora a sua colaboração tivesse sido muito positiva e apreciada, ao fim de pouco tempo desistiu desta actividade docente. Foi durante este período que pudemos trocar algumas ideias profissionais.
O António tinha uma personalidade forte, de caracter humanista com grandes preocupações na esfera social, como se pode provar pelo seu empenhamento na vida autárquica.
Enquanto professor reconheci-lhe grande competência e rigor, enquanto artista plástico a capacidade reportada aos criadores de correr riscos e de ser perseverante.
Sobretudo Colega de curso, mas também colega como docente.
Apenas um pequeno pormenor enquanto colegas de curso. O António era muito cioso dos seus materiais e do espaço em torno do seu cavalete. Então na aula de escultura eu gostava de o atormentar pedindo-lhe ferramentas ou materiais emprestados. Um dia também delimitei o seu espaço com uma fita - para brincar claro - com esta sua característica individualista que só aqui vi manifestada.