top of page
M.Albertina_Bia _irmã.jpeg

Maria Albertina "Bia"

Irmã

Tinha eu quatro tenros aninhos, quando nasceu o primeiro bebé menino da família.

Sei que os meus pais irradiaram de felicidade e logo lhe chamaram o nome de seu pai e avó materno António Júlio. Crescemos juntos, hoje em dia chamado numa família numerosa uma vez que era-mos quatro irmãos.

Vivíamos no campo onde apesar das dificuldades dessa época, brincávamos felizes e apertamos laços que nunca se desataram.

Era um encanto ver o meu irmão a fazer os seus brinquedos, em madeira. Em tardes de Verão à sombra de uma videira, que dava umas uvas deliciosas, as quais havia ao redor da casa: Como o carro de bois, com os respectivos paus, com que se equipava o carro (em linguagem rural estadulhos), fazia também com arte, os jugos para aparelhar os seus animais. As rodas dos carros, eram os das linhas quando terminadas, que lhe oferecia a nossa vizinha costureira (de seu nome Dina).

Quando entrou para a Escola Primária, a dois quilómetros da sua casa, que fazia a pé, ia com a Professora Gloria, que de caminho para o seu trabalho o acompanhava ate à escola em Vilar de Nantes. Pelas conversas da Professora com a minha mãe, tudo indicava que, um grande artista se despontava.
Acabou o ensino primária em Chaves – Escola St.º Amaro, devido à transferência profissional de seu pai.

No Liceu era chamado para fazer os cenários, para actividades académicas e festivas.

Um desses cenários, chamou a atenção do conceituado e grande Mestre Nadir Afonso, que logo viu ali potencial para o que viria a ser.

Convidou-o para o seu atelier. António Júlio passou a frequentá-lo depois das aulas e nas férias, tornando-se Nadir Afonso, o seu incondicional mentor e na escolha de Belas Artes.

 

Quando olho para traz, não deixo de ter orgulho naquele adolescente, que apesar da sua saudável rebeldia, conseguiu outros interesses para lá da pintura, como mais tarde, a escultura, a pesca no Rio Tâmega, no grupo de futebol de juniores e tocar viola.

Recordo um acto de bravura, ao correr e gritar para salvar uma vizinha que estava caída num poço.

Lembro também que, com toda a prontidão, se apresentou no hospital para dar sangue ao pai de um amigo, visto que o seu sangue era compatível com o doente.

O filho que se prontificava a ir com sua mãe visitar e distribuir alimentos pelos mais necessitados.

É com saudade que recordo o carinho com que o meu irmão tratava os nossos pais, e o resto da família. Recebia a todos com o seu olá, com muita alegria!

Depois do ensino secundário foi para a tropa e mobilizado para a Guiné (Guerra colonial), onde debaixo de grande conflito armado, continuava sempre que podia, a desenhar e pintar.

 

Veio da Guiné, com o 25 de Abril. Entrou pouco tempo depois, nas Belas Artes, onde se tornou um aluno de referência. Ainda como estudante trabalhador, casou e teve um filho que lhe deu netas, que adorava, e que era correspondido.

Os seus dotes culinários também reflectiam o seu lado artístico. É hereditário. A nossa mãe era uma excelente cozinheira e mãe de família, cujos dotes adquiriu.

Teve um segundo casamento, cuja mulher o acompanhou até ao fim, com muito interesse pela continuação e “presença” da obra de António Júlio, em livros, palestras e exposições, com a colaboração de familiares e de amigos.

Foi um irmão exemplar na partilha, de sentimentos com todo o núcleo familiar, colaborava e participava em todas as actividades e festas, que se desenvolveram ao longo da sua vida.

 Era um homem reservado, mas com um grande sentido de humor.

 

 

 

                                                          Com carinho da   irmã

 

                                                                         Bia

© Luis Espada 2021

bottom of page