
Padre Daniel
In memoriam
A certa altura faltou o vinho. Então a mãe de Jesus disse-lhe: “Não têm vinho” (Jo 2, 3). Foi também a pedido de sua mãe que o Escultor António Júlio pôs mãos à obra. A 28 de Dezembro de 1997, o primeiro Bispo de Setúbal dedicava o Altar e a Igreja da Sagrada Família.
Durante vários meses, António Júlio consagrou-se por inteiro: construir o Altar, a Pia baptismal, o Sacrário, os retábulos. No Altar, os católicos celebram a morte e a ressurreição de Jesus – e com as suas mãos o artista permitiu que tal acontecesse nesta Igreja. No Sacrário, os católicos guardam o precioso Corpo de Cristo, e o escultor permitiu que o Senhor fosse guardado em lugar digno e belo, como merece Aquele que lá se contém. Na Pia baptismal, nascem os nossos filhos. E o António Júlio sonhou que os novos Filhos da Igreja nasceriam em lugar nobre, digno da condição que assumiam.
O Altar não podia ser uma mesa. O Sacrário não podia ser uma caixa. A Pia baptismal não podia ser uma bacia. António Júlio queria mais: queria excelência, queria beleza, queria arte. Percebeu a importância vital destes lugares sagrados e quis valorizá-los. Percebeu para que serviria o seu trabalho: para mostrar a beleza de Deus e tentar assim aproximar os homens do Criador. Para isso serviu a pedra e o bronze, a talento e o engenho. Ao serviço de Deus e ao serviço da humanidade. Transformou a pedra criada bruta, recriando-a para a glória de Deus. Assim mostrou o poder divino e os discípulos acreditaram n’Ele (Jo 2, 11).
De facto, quantos rezaram a Jesus vendo-O ao longe no Cordeiro do Sacrário. Outros rezaram pela família olhando para a Sagrada Família e Jesus a brincar ao pião... Centenas crianças ali foram baptizadas. Quantas Missas, quantas hóstias consagradas neste Altar.
Na sua lucidez, o Escultor António Júlio tinha consciência da importância da obra que realizava. Não descuidou nenhum pormenor, nem mesmo a chave em bronze da porta do Sacrário.
Ao centro plantou uma Cruz, grande e pesada. Para que ninguém se iludisse: ela é que dá vida ao cristão. E também teve a sua Cruz, grande e pesada. Mas não se assustou. Porque já antes tinha aprendido a dar a vida, com o seu esforço, o seu trabalho.
A Paróquia da Sagrada Família reconhece o seu dever de gratidão. Por isso retribui o melhor que sabe: «Dai-lhe, Senhor, o eterno descanso, entre os esplendores da luz perpétua. A sua alma descanse em paz. Amém».
